Hoje é o primeiro dia do último mês que passo em Paris. É isso mesmo, no dia 7 de Setembro, às 13:40, tenho viagem marcada de regresso a Lisboa, o que neste momento sabe a cinco mil facas cravadas no coração e a mortes escuras e duras como se as unhas se tivessem partido.
Bref,
A Rússia
Quando me convidaram para ir a São Petersburgo e a Moscovo no final do mês de Julho, pensei primeiro que se tratava de brincadeira, depois de um pedido absurdo, e acabei a história a rir-me estúpido com a minha mãe ao telefone, porque lhe havia dito que não mais ia sair de Paris até ao fim e agora lhe vinha pedir dinheiro porque ia para a Rússia passar uma semana.
Mas assim foi. Por entre idas ao consulado Russo no 16º arrondissement por duas vezes às 6 da manhã e confusões com seguros de viagem e formulários preenchidos a azul escuro em vez de preto - o que na Rússia aparentemente é criminal -, consegui preparar tudo e ir-me embora a 27 de Julho, após ter dito aos meus chefes no hospital que ia a Portugal visitar o meu 'professor Erasmus' antes que ele fosse de férias no mês de Agosto.
Hey, you gotta do what you gotta do, right. E eu não ia deixar de ir à Rússia só porque tinha de trabalhar.
Ahem.
27 de Julho
Mochila às costas, saco a tiracolo, nem sei bem onde vou ficar a dormir hoje à noite. O Blaise disse-me que íamos fazer couch surfing nas primeiras noites - lembro-me bem de antes de virmos para Paris a Carlota me ter dito no MSN que se fosse preciso passava a pão e água mas não ia deixar de viajar e fazer chouch surfing pela Europa, e sei que na altura pensei 'couch surfing não é bem a minha onda, disparate, ficar a dormir no sofá de alguém que nem conheço'. Fast forward, 10 meses depois, sim, é verdade, vou fazer couch surfing no raio da Rússia, na casa do Vyacheslav, que nunca vi mais gordo e me faz ter medo de acordar amanhã de manhã numa banheira de glassons com o bilhete a dizer 'tout à fait, este mito urbano tornou-se realidade, tirámos-te os rins para os vendermos no mercado negro', mas que grande caralhada.
Não, eu não estava assim tão nervoso. Sabia que o Vyacheslav tinha um perfil com feedback minimamente aceitável e que as pessoas até o achavam acolhedor e simpático.
Eu basicamente queria era ir para a Rússia.
Cheguei primeiro do que o Blaise a São Petersburgo, depois de umas breves horas em Helsínquia. Após ter admirado os Antonov estacionados na pista do aeroporto e passar pelo controlo de passaportes (warning, parêntesis mais longo de sempre onde me obrigaram a preencher um papel qualquer de autorização de entrada no país e eu, sem ter caneta à mão, pedi uma emprestada à única pessoa que se encontrava num raio de 10 metros de distância; quando me apercebi de que a senhora só tinha esferográficas vermelhas, soube que me expatriariam com interdição de entrada no país durante cinco anos por ter preenchido um papel na rússia com tinta encarnada, mas felizmente a senhora do controlo foi complacente e limitou-se a olhar para mim com um olhar 'really?? vermelho??', eu fiz a minha cara de obstipado e disse 'no russian', ao que ela respondeu com um gesto mecânico, carimbando o documento com uma tinta laranja), cheguei à sala de espera do aeroporto e decidi ir tomar um café enquanto esperava pelo meu amigo, que tinha vindo num vôo diferente. Encontrei um daqueles cafés género Starbucks para logo desistir da ideia de tomar o que quer que fosse, porque 1) a ementa estava toda em alfabeto cirílico, que eu nunca hei-de saber decifrar na vida nessa altura eu ainda não dominava e 2) ninguém naquele fim de mundo de aeroporto internacional falava inglês.
Fui portanto à procura de outras coisas para me entreter, tendo encontrado um tipo que falava inglês e andava a vender cartões SIM com tarifários especiais para estadias curtas na Rússia e, segundo ele, bons preços para chamadas e mensagens para o estrangeiro. A matemática nunca foi o meu forte - ok ok, talvez até tenha sido em tempos -, pelo que não devo ter feito bem a conversão de rublos para euros e claro que, embebido no espírito da cena, disse logo que sim, sem ter realizado que ia pagar exactamente o mesmo que se utilizasse o roaming do cartão francês. Basicamente agora tenho um número russo e guardá-lo-ei com zelo, já que nunca se sabe quando poderá vir a ser útil.
Na Rússia o calor era insuportável. Quando o Blaise chegou, tratámos logo de ligar ao Vyacheslav do meu novo telefone russo, e ele respondeu simpaticamente a dizer que nos ia buscar ao aeroporto. Assim foi: dez minutos mais tarde, estava ele a chegar no seu jipe com ar condicionado, tendo-me deliciado com o fresco no banco de trás até chegarmos à casa dele. Aí, o nosso host tinha preparado uma série de coisas para comermos, desde queijo russo até mirtilos frescos, que inalámos com gosto. Nessa noite fez-nos o jantar e levou-nos a passear por alguns sítios de São Petersburgo, que, embora seja muito bonita e interessante, me pareceu demasiado soviética, com ruas larguíssimas e monstruosamente longas, numa mostra de urbanismo algo monótona - como se eu sequer soubesse do que estou a falar.
À uma e meia da manhã, quando já não sentia as minhas pernas e o Blaise se queixava de que já não podia ver pontes a serem levantadas para deixarem passar barcos, o Vyacheslav fez questão de nos levar a um restaurante de sushi, onde comeu e bebeu chá. Eu, com medo de ficar com prisão de ventre durante aqueles seis dias, pedi simplesmente um prato de frutas com kiwi. Muito kiwi.
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Os dias seguintes foram passados com calor infernal e caminhadas intermináveis, porque o Blaise gosta, porque gosta, de ver todo e mais algum sítio que aparece indicado no guia. Claro que fiquei muito contente no final da viagem, quando estava no comboio a caminho de Moscovo, porque vinha com a nítida sensação de que tinha visto toda a cidade e arredores com palácios magníficos e praças imensas e jardins muito giros com flores plantadas de fresco.
Mas na verdade gostei muito da cidade.
De quinta para sexta feira apanhámos o comboio nocturno de São Petersburgo até Moscovo, onde pela primeira vez tive uma noite de sono completo porque havia ar condicionado. Podia ter ficado naquele comboio para sempre, na carruagem restaurante decorada à anos vinte a beber mojitos ou chá.
Gostei mais de Moscovo. A cidade é menos monótona e tivemos a sorte de ficar num sítio muito bem arranjado e sem poluição. A praça vermelha fascinou-me e o kremlin merece verdadeiramente ser visitado, tanto pelas catedrais ortodoxas como pelos museus com peças de arte fabulosas - desde ovos de ouro hiperdecorados até evangelhos com capas maravilhosamente apetrechadas de pedras preciosas. Fiquei verdadeiramente impressionado. Quanto às gentes, não achei que fossem demasiado hostis - tirando o facto de fugirem de mim quando eu lhes perguntava se sabiam falar inglês -, tinham todas um ar muito feliz, ocupando os jardins as mais das vezes em trajes menores, face ao calor que se fazia sentir, e ostentando os corpos em mini-vestidos e high heels num freak show que passava desbercebido a toda a gente menos nós.
Na última noite em Moscovo o Blaise fez uma crise de febre. Eram quatro da manhã e eu não tinha comigo nenhum medicamento, o que serviu de lição. Ao início ele acordou dizendo que tinha muito frio muito frio, ao que eu, contrariado, respondi apagando o ar condicionado e rogando-lhe uma praga. Dez minutos depois ele voltou a acordar-me dizendo que achava que estava a fazer uma crise de febre e que estava completamente gelado. Ele tremia e batia dente, a cama mexia com ele, eu já vi esta pneumonia antes, ai que grande merda, e eu não tenho uma porra de paracetamol.
Fui ter com o Dave, o 'responsável de animação' do hostel onde nós estávamos. Era um australiano com origens claramente asiáticas que estava provavelmente a fazer um estágio naquele fim de mundo e me disse, quando eu lhe pedi medicamentos, 'acho muito pouco provável que eles tenham uma caixa de primeiros socorros, sabes, aqui as pessoas interessam-se é em sobreviver'. Foi nesse momento que confirmei que o Dave era louco, o que já me tinha passado pela cabeça nas quatro ou cinco vezes em que ele tinha passado por nós naquele dia perguntando 'olá, foram vocês que vieram ter comigo há bocado tentar pagar a estadia?'. O Dave tinha claramente o espírito happy-go-lucky forçado de animador de hostel de 14 pessoas, mas na verdade penso que era mais burro de que uma caixa de pedras.
Face à perfeita inutilidade do australiano, e vendo que o Blaise continuava mal, decidi ir ao supermercado mais próximo, que, à boa maneira russa, estava aberto 24/24h, em busca de algum medicamento. Cheguei lá, perguntei ao homem do supermercado por meio de gestos e 'medicamenten' e 'remedien' meios à toa se eles tinham medicamentos, e ele disse-me que não. Frustrado, ia a sair da loja quando, por obra do além, vejo chegar uma ambulância ao parque de estacionamento. Vou ter com os tipos, pergunto inutilmente se o médico fala inglês, ele nem percebeu o que eu tinha perguntado, eu olho para o céu e pergunto-me o que raio estou a fazer neste fim de mundo de rússia às quatro e meia da manhã a tentar gerir uma crise médica deste tipo, olho para o médico com a minha cara exasperada e digo 'you, doctor. me, doctor', ao que se seguiram as palavras 'paracetamol, ibuprofen, aspirin', na esperança vã de que ele percebesse que eu precisava urgentemente de alguma coisa que fizesse baixar a febre. De súbito fez-se luz e ele começou à procura de qualquer coisa, e eu depreendi que ele tivesse finalmente percebido o que eu queria. Procurou, procurou, mas não encontrou comprimidos. Só tinha um frasco de líquido injectável e fez-me o gesto de beber, querendo claramente dizer que o Blaise só tinha de engolir a coisa e talvez desse resultado. Óbvio que não era momento de preocupação com biodisponibilidades e afins, pelo que agradeci imenso e vim embora, não sem antes me cruzar com um rato a meio do caminho.
Chego ao hostel, olho para a ampola e apercebo-me de que o nome da substância está escrito em cirílico e não consigo decifrar o que seja, mesmo traduzindo para alfabeto romano, pelo que peço ao Dave para me ligar o computador e procurar o que raio seja aquilo. Usamos o google translator, que não serve para nada porque obviamente não traduz nomes de substâncias, eu estou na merda porque não sei se devo mesmo dar o medicamento ao Blaise, enquanto o Dave se mostra fascinado por o medicamento que é para a veia poder ser engolido.
Finalmente, depois de toda esta comoção, o Blaise lembrou-se, pelo meio dos espasmos, de que tinha umas saquetas de aspegic consigo. Eu resisti à tentação de o afogar com as minhas próprias mãos e dei-lhe uma saqueta.
Minutos mais tarde, estava eu já a tentar dormir novamente quando o Blaise, já praticamente bom, se vira e diz 'Pedro, achas que isto pode ser malária?'. Os meus olhos abriram-se instantaneamente e o sono esvaíu-se.
Lembrei-me de que ele me tinha dito que três meses antes tinha estado na Guiana Francesa e que, à boa maneira sua, não tinha tomado a profilaxia anti-palúdica como devia. Desde então, de tempos a tempos, tinha crises de arrepios e febre durante a noite, molhando o pijama com suores frios. Mas não foi isso que me fez parar, siderado e estarrecido - foi, sim, a imagem dos mosquitos grandes que nos infestavam o quarto desde há dois dias atrás e que se transformavam em poços de sangue de cada vez que os matávamos contra a parede. Eram ubíquos, perenes e multiplicavam-se aparentemente ao ritmo a que os matávamos. Malária, sangue, mosquitos, dois tipos fechados num quarto.
Holy fucking shit.
Se eu tive pena do Dave quando, às cinco e meia da manhã, o fui acordar novamente para acender o computador porque não me lembrava se a malária podia dar crises de febre intermitentes e queria saber se o Anopheles existia na Rússia?
Most definitely not.
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Os dias seguintes foram passados com calor infernal e caminhadas intermináveis, porque o Blaise gosta, porque gosta, de ver todo e mais algum sítio que aparece indicado no guia. Claro que fiquei muito contente no final da viagem, quando estava no comboio a caminho de Moscovo, porque vinha com a nítida sensação de que tinha visto toda a cidade e arredores com palácios magníficos e praças imensas e jardins muito giros com flores plantadas de fresco.
Mas na verdade gostei muito da cidade.
De quinta para sexta feira apanhámos o comboio nocturno de São Petersburgo até Moscovo, onde pela primeira vez tive uma noite de sono completo porque havia ar condicionado. Podia ter ficado naquele comboio para sempre, na carruagem restaurante decorada à anos vinte a beber mojitos ou chá.
Gostei mais de Moscovo. A cidade é menos monótona e tivemos a sorte de ficar num sítio muito bem arranjado e sem poluição. A praça vermelha fascinou-me e o kremlin merece verdadeiramente ser visitado, tanto pelas catedrais ortodoxas como pelos museus com peças de arte fabulosas - desde ovos de ouro hiperdecorados até evangelhos com capas maravilhosamente apetrechadas de pedras preciosas. Fiquei verdadeiramente impressionado. Quanto às gentes, não achei que fossem demasiado hostis - tirando o facto de fugirem de mim quando eu lhes perguntava se sabiam falar inglês -, tinham todas um ar muito feliz, ocupando os jardins as mais das vezes em trajes menores, face ao calor que se fazia sentir, e ostentando os corpos em mini-vestidos e high heels num freak show que passava desbercebido a toda a gente menos nós.
Na última noite em Moscovo o Blaise fez uma crise de febre. Eram quatro da manhã e eu não tinha comigo nenhum medicamento, o que serviu de lição. Ao início ele acordou dizendo que tinha muito frio muito frio, ao que eu, contrariado, respondi apagando o ar condicionado e rogando-lhe uma praga. Dez minutos depois ele voltou a acordar-me dizendo que achava que estava a fazer uma crise de febre e que estava completamente gelado. Ele tremia e batia dente, a cama mexia com ele, eu já vi esta pneumonia antes, ai que grande merda, e eu não tenho uma porra de paracetamol.
Fui ter com o Dave, o 'responsável de animação' do hostel onde nós estávamos. Era um australiano com origens claramente asiáticas que estava provavelmente a fazer um estágio naquele fim de mundo e me disse, quando eu lhe pedi medicamentos, 'acho muito pouco provável que eles tenham uma caixa de primeiros socorros, sabes, aqui as pessoas interessam-se é em sobreviver'. Foi nesse momento que confirmei que o Dave era louco, o que já me tinha passado pela cabeça nas quatro ou cinco vezes em que ele tinha passado por nós naquele dia perguntando 'olá, foram vocês que vieram ter comigo há bocado tentar pagar a estadia?'. O Dave tinha claramente o espírito happy-go-lucky forçado de animador de hostel de 14 pessoas, mas na verdade penso que era mais burro de que uma caixa de pedras.
Face à perfeita inutilidade do australiano, e vendo que o Blaise continuava mal, decidi ir ao supermercado mais próximo, que, à boa maneira russa, estava aberto 24/24h, em busca de algum medicamento. Cheguei lá, perguntei ao homem do supermercado por meio de gestos e 'medicamenten' e 'remedien' meios à toa se eles tinham medicamentos, e ele disse-me que não. Frustrado, ia a sair da loja quando, por obra do além, vejo chegar uma ambulância ao parque de estacionamento. Vou ter com os tipos, pergunto inutilmente se o médico fala inglês, ele nem percebeu o que eu tinha perguntado, eu olho para o céu e pergunto-me o que raio estou a fazer neste fim de mundo de rússia às quatro e meia da manhã a tentar gerir uma crise médica deste tipo, olho para o médico com a minha cara exasperada e digo 'you, doctor. me, doctor', ao que se seguiram as palavras 'paracetamol, ibuprofen, aspirin', na esperança vã de que ele percebesse que eu precisava urgentemente de alguma coisa que fizesse baixar a febre. De súbito fez-se luz e ele começou à procura de qualquer coisa, e eu depreendi que ele tivesse finalmente percebido o que eu queria. Procurou, procurou, mas não encontrou comprimidos. Só tinha um frasco de líquido injectável e fez-me o gesto de beber, querendo claramente dizer que o Blaise só tinha de engolir a coisa e talvez desse resultado. Óbvio que não era momento de preocupação com biodisponibilidades e afins, pelo que agradeci imenso e vim embora, não sem antes me cruzar com um rato a meio do caminho.
Chego ao hostel, olho para a ampola e apercebo-me de que o nome da substância está escrito em cirílico e não consigo decifrar o que seja, mesmo traduzindo para alfabeto romano, pelo que peço ao Dave para me ligar o computador e procurar o que raio seja aquilo. Usamos o google translator, que não serve para nada porque obviamente não traduz nomes de substâncias, eu estou na merda porque não sei se devo mesmo dar o medicamento ao Blaise, enquanto o Dave se mostra fascinado por o medicamento que é para a veia poder ser engolido.
Finalmente, depois de toda esta comoção, o Blaise lembrou-se, pelo meio dos espasmos, de que tinha umas saquetas de aspegic consigo. Eu resisti à tentação de o afogar com as minhas próprias mãos e dei-lhe uma saqueta.
Minutos mais tarde, estava eu já a tentar dormir novamente quando o Blaise, já praticamente bom, se vira e diz 'Pedro, achas que isto pode ser malária?'. Os meus olhos abriram-se instantaneamente e o sono esvaíu-se.
Lembrei-me de que ele me tinha dito que três meses antes tinha estado na Guiana Francesa e que, à boa maneira sua, não tinha tomado a profilaxia anti-palúdica como devia. Desde então, de tempos a tempos, tinha crises de arrepios e febre durante a noite, molhando o pijama com suores frios. Mas não foi isso que me fez parar, siderado e estarrecido - foi, sim, a imagem dos mosquitos grandes que nos infestavam o quarto desde há dois dias atrás e que se transformavam em poços de sangue de cada vez que os matávamos contra a parede. Eram ubíquos, perenes e multiplicavam-se aparentemente ao ritmo a que os matávamos. Malária, sangue, mosquitos, dois tipos fechados num quarto.
Holy fucking shit.
Se eu tive pena do Dave quando, às cinco e meia da manhã, o fui acordar novamente para acender o computador porque não me lembrava se a malária podia dar crises de febre intermitentes e queria saber se o Anopheles existia na Rússia?
Most definitely not.
Até hoje não tive sintomas de malária, mas tive medo.
Muito medo.
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