Hoje almocei sozinho com a Sté. Ui como as coisas mudaram. Paris é outra em tantos e tão diversos aspectos - no tempo, que agora é quente quente quente e insuportável ao ponto de as ventoinhas terem esgotado nos bazares chineses mais próximos sem que eu tenha tido tempo de comprar uma; na forma como passo os meus dias, que agora é mais obsessiva do que nunca porque alterna entre ver os vídeos do kaplan enquanto tento tirar notas, decidir se leio o Harrison's ou não como backup plan, palmilhar telhados de Paris enquanto o fogo de artifício na torre eiffel explode lá ao longe e o que eu quero é que o momento não passe, saltar a vedação do buttes-chaumont às tantas da noite praguejando para mim Pedro onde é que te vieste meter, andar de velib mais tempo e por mais quilómetros do que três voltas a frança --- ehhhh, o exagero, vamos com calma; no estágio, que agora é cirúrgico e passa muito por ver cabeças abertas e gente hilariamente confusa e afásica ou por co-externos que, não obstante estarem um ano abaixo do meu, são mais obsessivo-compulsivos do que qualquer colega do quinto ano com que trabalhei nestes meses; nas gentes, que agora são outras e bárbaras e desconhecidas.
Um mês e meio e estou fora daqui - o que hoje é visão negra e caseosa, porque estou tão feliz. Hoje.
Lembro-me bem dos primeiros dias e da emoção alucinante disto tudo - ir ao casino a pé no primeiro dia e amaldiçoar a Helena pelas mãos roxas com que fiquei depois disso, fazer o navigo e depois o imagineR, descobrir que a Cátia tinha poupado quase 100 euros à custa da incompetência das máquinas, ir com a Carlota e a Sté até ao fim do mundo para o concerto dos mcfly, conhecer os italianos e depois os espanhóis e depois o Stefan, andar de cabeça no ar como se não houvesse amanhã e a liberdade em Paris fosse para sempre, ver os novos chegarem e observar como tudo muda tão subtilmente.
Hoje almocei sozinho com a Sté enquanto a Carlota recuperava da noite de ontem com uma grasse matinée que se arrastava já para grasse après-midi.
Isto porque os outros já se foram embora e ficámos os três rodeados de asians que vêm por dois meses e nos cumprimentam com um 'hi there' que me faz doer as profundezas do âmago e sentir-me quase insultado e responder com um 'bonjour' a meio gás.
Sinto-me velho e rezingão por saber que esta casa foi um dia tão e tão bem habitada e agora faz lembrar uma pocilga de vinagre de maçã e restos de bolinhos de arroz incrustrados nas nossas panelas transformadas em wok.
Paris mudou comigo.
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