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50.

Estou há 50 dias em Paris.

Hmmm novidades, novidades... Já tenho cartão francês e a minha conta está validada - fui buscar o cartão ao banco na terça-feira e, se tudo correr bem, não mais vou ter de ver a cara do Monsieur Rivière. Recebi o meu primeiro ordenado do hospital e ainda não sei o que fazer com ele. Recebi o meu passe anual de transportes e sei bem o que fazer com ele. Ha.

Descobri entretanto que as minhas primeiras impressões saíram um bocado furadas no hospital. A Adeline - vulgo nurse Jackie - é fixe, o Clément não é mau de todo e de vez em quando também leva raspanetes da chefe de clínica, a Karine surpreendeu-me muito hoje quando num tom de cumplicidade me alertou para o facto de que a Anne Cécile (of shit), chefe de clínica, tinha escrito no quadro dos doentes que era preciso fazer uma gasimetria à Madame Monteverdi e eu fui logo tratar do assunto, a Anne Cécile - que parece a Carla Bruni meets hot-30ish-mom - não gosta de mim e faz questão de me humilhar ou falar muito depressa para eu não perceber ou mandar-me vezes sem conta ao serviço de Reanimação em busca de radiografias perdidas em salas repletas de processos, o Xavier - chefe de serviço - teve certamente uma vida liceal muito complicada cujas repercussões ecoam pela eternidade e também não gosta muito de mim, abanando a cabeça em 'nãos' permanentes sempre que eu abro a boca.

Fiz amigos no hospital. Já não sou recambiado para a cantina da faculdade porque tenho um cartão de funcionário e vou comer com o Clément, a Stéphanie e o Mehdi, que são os meus colegas no serviço e aos poucos começam a aperceber-se de que não sou tão burro como eles pensavam. Claro que apanho bonés na maior parte das conversas, mas com o meu sorriso intermédio - não demasiado expressivo mas também não ausente de todo, para poder ser aplicável a todo o tipo de situações - lá me vou safando.

Consigo comunicar com os doentes. Às vezes não sei dizer coisas mas invento ou então vou ao dicionário ou digo 'désolé' e saio do quarto para ir apanhar ar porque estou farto daquilo. Mas gosto de lá estar, apesar de tudo. Os dias são todos diferentes e sinto que o desafio é constante e em diversos aspectos - a língua, os doentes que tenho à minha responsabilidade, a vontade de mostrar que embora não me expresse perfeitamente em francês eu sei do que estou a falar quando abro a boca. Claro que muitas vezes sai asneira, mas aos poucos vou ganhando uma certa tolerância para comigo próprio e outra tanta resistência às investidas dos meus chefes. Antes a Anne Cécile chateava-me porque ainda não tinha interpretado os resultados dos exames dos doentes que tinham saído naquela manhã; agora, sou eu que chamo a atenção dela para as alterações e para tudo aquilo que noto de estranho nos pacientes - tiro tempo para os ouvir e os examinar e nunca tenho medo de sacar do dicionário seja em que situação for para tirar dúvidas. Quando ela me humilha eu finjo que não percebo e quando ela me pergunta se percebi o que alguém acabou de explicar digo logo 'oui, j'ai bien compris', enquanto mentalmente a mando para sítios recônditos que geralmente envolvem fogueiras a arder ou sessões de mergulho sem garrafa de oxigénio em lagos cobertos por superfície de gelo.

Quando bate a uma da tarde vou comer e depois venho para casa. Passo as tardes a andar pelas ruas da cidade ou então a estudar. Vou amanhã fazer o passe anual para poder andar de bicicleta quando me apetecer em Paris.

Estou a gostar muito. Mesmo. Antes de vir tinha medo, mas agora percebo que as coisas são muito mais simples do que alguma vez pensei. Continuo a não gostar dos parisienses nem da forma pouco simpática como falam com as pessoas, mas o património da cidade inspira-me e faz-me pensar que, embora não pense alguma vez vir para cá viver de forma permanente, é um privilégio grande poder estar aqui durante um ano.
Read More 2 comentários | Publicada por Pedro edit post

2 comentários

  1. Estrelita on 30 de outubro de 2009 às 00:14

    "Recebi o meu primeiro ordenado do hospital e ainda não sei o que fazer com ele." MON DIEU!!! Não te deixarei com tamanha dúvida meu querido!! Pegas no dinheiro e pagas uma passagem à prima e um par de Christian Louboutin!! :D lolol ;) Vai masé jantar fora a um sitio decadentemente chique e beber uma garrafa de vinho que custa quase o ordenado inteiro!

    bisouuuuxxxx

    Cris*

     
  2. Pedro on 30 de outubro de 2009 às 00:51

    lol o dinheiro não dá para isso tudo... :p e no fundo no fundo eu sei bem o que fazer com o ordenado: pagar comidinha no supermercado! hehehe

     


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