Como sempre, 'I let myself go a little bit' e agora tenho poderios de coisas para contar, ainda que esqueça a maior parte delas. Decidi pois dividir a história em três partes, que contemplam essencialmente a ida, a volta e um novo começo. Não é nada de outro mundo nem fantasticamente interessante, mas no fundo é um pouco da minha vida nos últimos dias.
A IDA
O estágio na Pneumologia acabou em grande. Quando, no dia 18 de Dezembro, o Xavier me tinha feito aqueles elogios todos após o meu exame, pensei que estivesse apenas a dizer coisas para ser simpático, mas afinal enganei-me. Regressei no dia 27 ao serviço e, quando fui buscar a minha folha de avaliação, fiquei sem saber o que dizer quando li as palavras que a Anne-Cécile tinha escrito: 'Excellent étudiant, très motivé, très bonne participation'. Com os olhos marejados de lágrimas - ou não -, virei a página e por entre rios de sal vi que me tinha dado 18 como nota final de estágio, o que só aumentou a emoção. Nesse momento, e por causa da nota que ela me tinha dado, decidi que gostava um pouco mais da AC. Por outro lado, contudo, não sabia bem o que pensar nem como reagir perante certas coisas que ela me dizia. Quando entrei na sala dos enfermeiros na segunda-feira da última semana de estágio, por exemplo, ela olhou para mim, esboçou um grande sorriso e disse 'bonjour Pedro, ça me fait plaisir de te voir', o que me deu um friozinho na barriga e fez ficar sem resposta. E no derradeiro momento, antes de deixar para sempre o serviço de Medicina Interna do Hospital de Kremlin Bicêtre, tanto o Xavier como a AC disseram que eu ia fazer-lhes falta.
Em suma, cheguei à conclusão de que eles gostavam mais de mim do que eu deles.
C'est parti, on se verra dans une autre vie.
Passámos a última semana do ano a fazer coisas triviais como ir ao estágio durante a manhã e ir visitar coisas durante a tarde. A casa estava praticamente vazia, porque na verdade apenas os estudantes de medicina, que só tinham tido 5 dias úteis de férias, estavam de volta.
Começámos entretanto os preparativos para o jantar de Ano Novo aqui em casa. A Sté só chegou na quinta-feira ao final do dia e a Cátia tinha cá uns amigos com quem ia fazer turismo, pelo que a árdua tarefa de ir ao supermercado no dia 31 e cozinhar calhou a mim, à Carlota e à Helena. Covidámos alguns amigos arquitectos que também já estavam de volta e colegas estrangeiros da nossa faculdade aqui em Paris. A coisa prometia ser forte - na verdade, quando demos por nós já tínhamos 19 convidados, o que inicialmente não estava previsto. Como estamos habituados a cozinhar para pouca gente e o maior jantar que jamais tínhamos feito fora para 11 pessoas, tivemos um pequeno problema com as doses e não houve comida para toda a gente.
Em boa verdade, o nosso jantar de Ano Novo foi um fiasco.
Para além de não haver prato principal suficiente (houve pessoas que literalmente não comeram carne porque não havia), a Helena decidiu fazer um crumble de maçã pela primeira vez na vida sem seguir receita alguma, o que resultou num preparado com sabor a farinha que só hoje a Sté conseguiu acabar de tragar para não deitar fora, acto a meu ver deveras estóico.
Saímos já tarde de casa em direcção à Torre Eiffel. Paris estava um caos - as pessoas gritavam nas ruas, os espanhóis partiam copos de vidro no chão depois de brindarem sem sequer se preocuparem com quem estava à volta deles, as carruagens de metro pareciam discotecas ambulantes com toda a gente a cantar coisas desde 'I gotta feeling' até 'Paris is burning', passando por 'Portugal, Portugal'. Só conseguimos chegar à torre cerca de 20 minutos antes da meia-noite, e aí ficámos parados a ver balões de são joão a subirem ao céu, bombinhas de carnaval a estalar e fogo de artifício aqui e acolá. À meia-noite a torre piscou - como pisca sempre à hora certa, sejam duas da tarde ou seis da manhã - e pronto, foi isso.
Nada de extraordinário.
A viagem de regresso a casa também foi épica, com a Sté a ir mijar atrás de um arbusto e um tipo a cuspir para cima do Stefan no metro. Ainda se tentou ir a uma discoteca em Montparnasse, mas era tanta a confusão que veio tudo para casa às três da manhã.
No próximo ano experimento Nova Iorque - com uma Paris destas, mais vale Rabo de Peixe.
No primeiro dia do ano novo fomos a Montmartre todos juntos passar a tarde e jantámos por lá, tendo rapado muito frio nos entretantos. Já não nevava, mas ainda assim o ar era gélido.
À noite fomos até ao Marais, onde comemos Falafel, e ainda passámos no Hôtel de Ville, onde as pessoas faziam patinagem no gelo.
"No próximo ano experimento Nova Iorque - com uma Paris destas, mais vale Rabo de Peixe." (sic)
Brilhante.............. =D